Política

A proteção das crianças na Internet: indefinição jurídica que enfraquece a responsabilização e favorece a impunidade


 

 

Paulo Serra

Nos últimos dias, um vídeo publicado pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, acendeu um debate que não pode ser ignorado: até onde vai e como deve ocorrer a exposição de crianças nas redes sociais?

A Internet é um espaço de oportunidades, mas, também, de ameaças. Quando envolve menores de idade, o perigo se multiplica: exploração sexual, aliciamento, bullying, uso indevido de imagem, entre outros crimes não menos graves. No caso levantado pelo influencer, a preocupação se amplia pela ligação com temas sensíveis, como pedofilia e difusão de conteúdo ilegal.

Não de hoje, uma boa parte do que circula on-line fica numa espécie de “limbo jurídico”. Não está claro quem deve responder: o usuário que publicou, a plataforma que permitiu a circulação, ou ambos? Ao meu ver, tal indefinição enfraquece a responsabilização e favorece a impunidade. Afinal, o que é aceitável na rede? Precisamos falar em regulamentação, sim!

Importante frisar que não se trata de censura, mas de se criar no País regras mais objetivas, a fim de evitar que a liberdade de expressão seja utilizada como escudo na prática de delitos – é garantir que crianças estejam resguardadas por uma legislação eficaz, com rigorosa fiscalização e exemplar punição.

O Brasil já detém dispositivos legais nesta seara, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei “Carolina Dieckmann” e o Marco Civil da Internet. Contudo, na prática, muitas vezes, a aplicação falha em razão de investigações demoradas, falta de preparo técnico por parte das autoridades envolvidas nas elucidações, dificuldade de cooperação com empresas de Tecnologia, e morosidade judicial – só para citar algumas das dificuldades enfrentadas.

A dúvida, portanto, é legítima: precisamos de leis mais duras ou de mais eficácia na aplicação das que já existem? Talvez a resposta esteja no meio-termo: atualizar normas para o ambiente digital em voga e, ao mesmo tempo, investir na capacidade de investigação e punição.

Infelizmente, debates como este em tela, por vezes, acabam capturados pela polarização política “violenta” e pouco produtiva com a qual lidamos, infelizmente, já há alguns anos. Em vez de buscar soluções concretas, o tema, então, vira palanque ideológico.

Ao meu juízo, está mais que na hora de o Brasil abandonar a lógica do “quem está certo ou errado” com base em bandeiras partidárias. O País precisa é de gestão eficiente, com direito a ações coordenadas entre Estado, plataformas, especialistas em Segurança Digital e sociedade civil. Isso inclui, por exemplo, a criação de protocolos claros de remoção de conteúdo ilegal, investimento em detecção tecnológica automática, treinamento de policiais e juristas, e campanhas de conscientização para pais e responsáveis, entre um sem-número de possibilidades.

Tal discussão não é um capricho ou uma pauta de momento. Ela envolve o direito fundamental de crianças e de adolescentes à uma vida segura, inclusive no ambiente digital. Portanto, é essencial que pais, educadores, legisladores, empresas de Tecnologia e usuários, ou seja, todos, participem deste diálogo. O objetivo deve ser único: proteger quem ainda não pode se defender sozinho. O importante é não ficarmos inertes. Porque quando se trata da segurança das nossas crianças, cada dia sem ação é um risco que não podemos correr.

*Paulo Serra é especialista em Gestão Governamental e em Políticas Públicas, pela Escola Paulista de Direito; e em Financiamento de Infraestrutura, Regulação e Gestão de Parcerias Público-Privadas (PPPs), pela Universidade de Harvard (Estados Unidos); cursou Economia, na Universidade de São Paulo (USP); é graduado em Direito, pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo-SP; professor universitário, é presidente da Executiva Estadual do PSDB de São Paulo e foi prefeito de Santo André-SP de 2017 a 2024.





Fonte da Notícia

Artigos relacionados

Paulo Serra se consolida como opção de Centro e chega a 7,8% para Governo de SP em nova pesquisa da Paraná

    Em alguns cenários, ex-prefeito de Santo André-SP ultrapassa nomes como...

Nova regionalização do estado de SP é tema de livro que Marco Vinholi lança hoje no Shopping Iguatemi

    Com prefácios de Arnaldo Jardim e Fred Guidoni, obra também...

Paulo Serra pontua em pesquisa Quaest para o Governo do Estado de SP

Ex-prefeito de Santo André-SP foi lembrado pelo eleitorado paulista ao lado de...

MP relatada por Marangoni garante adesão de 363 municípios de SP ao “Minha Casa, Minha Vida”

2,7 mil cidades brasileiras serão contempladas com 30 mil moradias na nova...