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Acidentes aéreos em série podem gerar fobia, trauma e transtornos psíquicos em passageiros e não passageiros, alerta psicóloga e psicanalista


Especialista em Transtornos Graves das Psicoses, Luciana Inocêncio afirma que, quedas recorrentes de aeronaves no Brasil e no mundo estão deixando sociedade em pânico; recente estudo aponta que, só nos Estados Unidos, 25 milhões de pessoas estão com medo de voar

Acidentes aéreos, embora estatisticamente raros, de uns tempos para cá, têm sido recorrentes pelo mundo. O impacto psicológico deste tipo de ocorrência é profundo não apenas para sobreviventes e familiares das vítimas, mas, também, para o público em geral, conforme explica a psicóloga e psicanalista Luciana Inocêncio. De acordo com a especialista em Transtornos Graves das Psicoses, pelo Colégio de Psicoanalísis de Madrid (Espanha), as quedas recorrentes de aeronaves se tornaram gatilhos para a ansiedade e a fobia, fazendo com que muitos procurem ajuda no consultório para driblar o medo de voar e cumprir agendas profissionais e compromissos pessoais.

E não é para menos. Em pouco mais de um mês de 2025, somente o Brasil registrou 22 quedas, resultando em dez mortes, segundo o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) da Força Aérea Brasileira (FAB). A colisão mais recente ocorreu na manhã dessa sexta-feira (7/2), em São Paulo-SP, em movimentada avenida da Barra Funda, matando o dono da aeronave e o piloto. Nos Estados Unidos, 74 pessoas perderam a vida em dois acidentes aéreos ocorridos neste ano, em Washington e na Filadélfia.

Luciana tem percebido aumento de casos de aerofobia. E isso não tem relação, tão somente, com quem já passou por alguma experiência traumática em voo – considerado um dos meios de transporte mais seguros do mundo. Recente estudo da Cleveland Clinic, centro médico acadêmico americano sem fins lucrativos, com sede em Ohio, aponta que, só nos Estados Unidos, 25 milhões de pessoas estão, hoje, com medo de voar.

O transtorno está acometendo tanto quem já era acostumado a viajar de helicóptero ou de avião, a passeio ou a trabalho, como aqueles que nunca voaram, mas que estão prestes a embarcar – seja por turismo ou demanda profissional. Para que a fobia não se agrave, a psicóloga e psicanalista sugere acompanhamento clínico:

“A natureza inesperada e catastrófica deste tipo de evento desencadeia um sem-número de reações emocionais. Seja o sujeito vítima ou não, ele pode desenvolver aerofobia. Para se ter ideia, se a angústia for muito intensa, a pessoa chega ao ponto de acreditar que estará no próximo acidente”, observa Luciana, que já atuou no atendimento a vítimas e a sobreviventes de casos de grande repercussão, como o massacre da Escola Estadual (E.E.) “Raul Brasil”; a guerra entre Israel e Palestina, na Faixa de Gaza; e a enchente no Rio Grande do Sul.

A profissional destaca ainda que, o bombardeamento midiático e a exposição repetitiva a imagens impactantes ativam o sistema de alerta do cérebro, que, por sua vez, associa a experiência de um voo, que até então era considerada normal, a um perigo iminente. A pessoa, então, passa a superestimar a probalidade de novos desastres. A isso, a Psicologia dá o nome de “hiperatenção ao risco” e de “heurística da disponibilidade” – quando eventos de grande impacto emocional são percebidos como mais frequentes do que realmente são:

“2024 já não foi fácil para a aviação. Muitos acidentes ocorreram. Mas, neste ano, o pouco espaço de tempo entre um desastre e outro mexe com a mente humana e pode desencadear o que chamamos de ‘ansiedade antecipatória’. Pessoas que precisam viajar de avião, a passeio ou a trabalho, passam a apresentar sintomas muito antes do horário do embarque, como insônia, sudorese e crises de pânico. É uma agonia sem fim”.

Dependendo do grau do pavor de só se pensar em subir num avião, em caso de não reversão do quadro e de desistência sistêmica em voar, o cidadão pode, também, sofrer com frustração e isolamento.

Sobreviventes e luto
Para os sobreviventes de um acidente aéreo, o impacto emocional pode ser avassalador, de acordo com Luciana, que também é especialista em Psicologia Hospitalar e em Especialidades Médicas, pela Universidade de São Paulo (USP); e em Psicologia Clínica e em Teoria Psicanalítica, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC):

“Muitos desenvolvem o que chamamos de TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático), caracterizado por flashbacks, hipervigilância e pesadelos recorrentes. Não podemos nos esquecer, ainda, da ‘culpa do sobrevivente’ – sentimento de culpa com direito a sofrimento psíquico intenso desencadeado, em regra, quando há perda de outras vidas. E tudo isso se torna ainda pior quando há ausência de corpo de vítimas para as últimas homenagens e enterro”.

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