Mauá

Lançamento da Exposição ‘Mulheres de Luta’ reúne a história de quem fez história em Mauá

Evento teve apresentação do grupo Samba Lenço, herança de dona Sebastiana Augusta da Silva, uma das homenageadas

A história da construção e desenvolvimento da cidade de Mauá passa pela luta de inúmeras mulheres. Uma exposição, que está em constante ampliação, teve novos painéis inaugurados na noite desta quinta-feira (03/07), na Pinacoteca de Mauá. Oito desbravadoras do município tiveram suas fotos e histórias publicadas: Celma Maria de Oliveira Dias, Josefina Gonçalves (Jô), Carmem Edwiges Savietto, Maria Júlia de Oliveira Lobo, Francisca Lopes Negri, Irene Araújo da Silva e Sebastiana Augusta da Silva.

Elas se somam às já homenageadas moradoras de Mauá — Celcina Pereira Fernandes, Diva Alves e Léa Aparecida — que integram o acervo ao lado de figuras de impacto global, como Dilma Rousseff e a afegã Malala Yousafzai. Mulheres que, com suas lutas, transformaram vidas e deixaram um legado para todas as gerações.

“A porta da casa da minha avó nunca era fechada”, contou Claudete Silva Pereira de Souza, neta de dona Sebastiana. “Ela é merecedora desta homenagem porque foi uma pessoa que nunca ficou quieta e procurou socorrer todo mundo da melhor maneira possível. Nosso sentimento, enquanto família, é de orgulho, porque ela nos deixou uma identidade.” Claudete lembrou que a avó criou a primeira Folia de Reis de Mauá, resultado de uma promessa feita. “Ela nos mostrou quem somos, a nossa ancestralidade, a cultura dos nossos antepassados e nos deu um norte. O Samba Lenço, com suas danças de origem afro, existe por causa dela.”

Para a secretária-adjunta de Cultura, Fátima Queiroz, “não é uma mera exposição, mas o resgate da história de Mauá.” A coordenadora da Pinacoteca, Luciana Senhoreli, reforçou: “É um prazer receber quem representa a luta das mulheres de Mauá desde o século XIX.”

Olivier Negri, filho de Francisca Lopes Negri, também celebrou: “É muito importante resgatar a história e demonstrar o empoderamento das mulheres da nossa cidade.”

Diva Alves reforçou a importância do reconhecimento: “Fico orgulhosa de ver que a cidade mudou para melhor porque essas mulheres lutaram. A luta popular continua contra o racismo e o feminicídio.”

O prefeito em exercício, Juiz João, também filho de Celcina, fez um apelo às novas gerações: “Não desistam, não se deixem de lado. Não é uma luta fácil, mas vale a pena resistir, porque muita gente precisa dessa coragem.”

As homenageadas

Celma Dias, viúva do prefeito Oswaldo Dias, mora em Mauá desde 1970. Formada em Estudos Sociais, batalhou por melhorias essenciais como abastecimento de água, coleta de esgoto, asfaltamento de ruas, unidades de saúde e escolas. Foi fundamental na construção das igrejas Santa Clara e São Francisco de Assis, além da criação da Sociedade Amigos de Bairro da Vila Magini. Trabalhou em empresas na capital e no INSS, onde se aposentou em cargo de liderança. Foi secretária de Assistência Social, Ouvidora Municipal, secretária de Políticas para as Mulheres e vice-prefeita.

Josefina Gonçalves (Jô) é professora aposentada e mora em Mauá há mais de 60 anos. Iniciou sua militância aos 12 anos, na Igreja São Paulo Apóstolo. Fez parte da Juventude Católica Operária e de organizações clandestinas contra a ditadura. Fundou o Coletivo Alumiá, responsável pelo curso “Promotoras Legais Populares (PLPs)”. É militante pelos direitos das mulheres e integrante de diversas frentes feministas, além de manter um quintal produtivo baseado em agroecologia.

Carmem Edwiges Savietto (1922–?) foi casada com Rolando Fratti, dirigente do PCB. Candidata a vereadora em 1947 pelo PST, indicada por Luís Carlos Prestes. Presidiu a União de Mulheres Democráticas (UMD) e foi presa durante a repressão. Lutou pela construção de hospitais, creches, ambulatórios e pelo direito das mulheres na indústria.

Sebastiana Augusta da Silva, benzedeira e referência cultural, chegou ao Jardim Zaíra nos anos 1950. Com o compadre João Rocha e a comadre Isaura de Assis, iniciou o grupo Samba Lenço de Mauá, hoje patrimônio imaterial de São Paulo. Fundou a primeira escola de samba da cidade, Ordem e Progresso (1957), considerada também a primeira do ABC.

Francisca Lopes Negri viveu no Jardim Zaíra desde 1958. Enfermeira e educadora social, foi uma das fundadoras da primeira creche gratuita e da associação de moradores do bairro. Criou, com Irene Araújo, a primeira cozinha comunitária da região. Lutou por moradia, saúde e educação. Sua família foi perseguida pela ditadura. Chegou a abrigar o ativista Betinho em sua casa.

Irene Araújo da Silva, também no Jardim Zaíra, foi líder comunitária no Macuco. Defensora dos direitos dos trabalhadores e das famílias vulneráveis, criou com dona Francisca a cozinha comunitária em seu quintal. Participou ativamente da Associação de Moradores e da Associação das Donas de Casa.

Maria Júlia de Oliveira Lobo foi presa em dezembro de 1970, junto com outros militantes da Ação Popular. Perdeu o emprego na Porcelana Mauá por ajudar a organizar o 1º de maio de 1968. Ela e seu pai, José Joaquim de Oliveira, sofreram com a repressão militar. “Hoje temos liberdade, mas ela custou muito caro. Muitas vidas, muito sofrimento. Meu maior exemplo é Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Cristho), que me inspirou a contar essa história,” afirmou à Comissão da Verdade de Mauá.

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